Aluno precisa fugir da previsibilidade, diz professor de redação
“Cabe ao aluno buscar várias áreas do conhecimento”, diz
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“Cabe ao aluno buscar várias áreas do conhecimento”, diz
Com um tema considerado “mais palatável” por alunos e professores, o candidatos que vai se sobressair na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano será o que fugir da “previsibilidade” na opinião do professor Rafael Riemma, coordenador de língua portuguesa e redação do curso preparatório Galois. Riemma, que fez as provas ontem e hoje, utilizando quase todo o tempo destinado ao exame, tentou atingir exatamente este objetivo em seu texto.
“Este tema favorece que o aluno não saia da previsibilidade argumentativa. A competência 2 [um dos critérios de avaliação da redação definidas pelo Ministério da Educação (MeC) fala de compreender o tema e aplicar várias áreas do conhecimento. Na minha redação eu comparei a persistência da violência contra a mulher com a persistência do racismo. Eu sai da previsibilidade argumentativa, o que eleva minha nota”, explicou.
Para o professor, o tema acaba induzindo ao senso comum e é justamente neste ponto que o aluno pode buscar saídas. “Cabe ao aluno buscar várias áreas do conhecimento e aplicar dentro da tese que ele criou”, disse. O Ministério da Educação estabelece cinco competências a serem analisadas e cada uma tem cinco faixas que vão até 200 pontos.
No caso da competência 2, citada pelo professor, é analisado o grau de compreensão da proposta da redação e a aplicação de conceitos de diversas áreas do conhecimento para desenvolver o tema. “É, ao invés de falar do assunto, falar sobre o tema que é a delimitação do assunto”, explicou, ao citar, como exemplo, o tema da redação de 2013 que foi o efeito da implantação da lei seca.
“Todos falaram sobre o assunto: beber e dirigir. Mas o tema era o efeito da implantação da lei seca, como, este ano, o tema é a persistência da violência. Falar só sobre a violência contra a mulher não é abordar de forma fidedigna o tema. Candidatos que vão ficar só com 120 na competência 2 são os que vão falar apenas da Lei Maria da Penha, mulheres vítimas de agressão. Estes caras não saem do que a gente chama de previsibilidade”, afirmou.
Perguntado sobre as avaliações de alunos que consideraram a redação deste ano “mais fácil” ou “mais atual”, Riemma esclareceu que o Enem manteve, nesta prova, o mesmo grau de anos anteriores. “A grande diferença entre o tema deste ano e do ano passado – publicidade infantil – é a problemática mais evidente. No ano passado, não se evidenciou a problemática da publicidade infantil quando é abusiva. O tema deste ano deixou a problemática mais evidente. Com o problema mais evidente, fazer a redação cumprindo o que a planilha do Enem exige fica muito mais fácil”.
Em uma avaliação geral sobre o exame, Riemma destacou que a prova do Enem avançou em relação a atualidade e áreas de conhecimento. “A prova do Enem não costumava ser uma prova atual. A gente percebeu textos recentes. Na prova de Códigos de Linguagem esta perspectiva anterior se manteve com poucas atualidades, com um pouquinho mais de conteúdo”, disse. Para o professor, ficou claro que as questões não são mais resolvidas apenas a partir da “interpretação de texto, você precisa de um pouco mais de conhecimento”.
Considerada pela maior parte dos candidatos ouvidos pela Agência Brasil, como a mais difícil do dia, a prova de Matemática deixou muita gente preocupada. Coordenador da disciplina na escola Dínatos COC, em Brasília, Luiz Fernando Costa, concorda que a média de notas deste ano vai sofrer queda. “As provas do Enem, de matemática, vem num crescente aumento do grau de dificuldade. Esta prova está sim num grau maior do que anteriores que já foram consideradas difíceis. Acredito que vai ter novamente uma queda na média da nota de matemática”, avaliou.
Segundo Costa, o que vem transformando este perfil é uma exigência, cada vez maior, de habilidades do candidato em interrelacionar conceitos diversos. “Antes as questões cobravam uma única habilidade. Agora cobram mais habilidade, exigem mais concentração do aluno e que ele tenha mais conteúdo”, disse.
Na opinião de Costa, o Enem está passando a mensagem para que os estudantes se dediquem ainda mais à disciplina, mas avaliou que apesar do grau de dificuldade, o conteúdo está dentro do que deve ser cobrado deste nível de ensino.
“Eles estão dando ênfase a porcentagem, analise de gráficos e grandezas proporcionais. Só estes três assuntos correspondem a 16 questões da prova [de um total de 45]. É um terço da prova em conteúdos que a gente considera factíveis para o aluno do ensino médio e importantes para qualquer área de conhecimento”, explicou.
“Está aumentando o grau de dificuldade mas para que as escolas corram mesmo atrás destes grau. Tem que ter um padrão a seguir, uma qualidade a ser atingida. O Enem está aí para balizar o ensino médio e melhorar a qualidade dele. Com este objetivo, acho que a prova foi muito legal”, concluiu.
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