Cuidados urgentes que Ribas deve ter

A cidade de Ribas do Rio Pardo, a 92 quilômetros de Campo Grande, vive uma explosão de crescimento em todos os sentidos: demográfico, econômico e social, por conta do processo de implantação de uma das maiores indústrias de celulose do mundo, a Suzano, com investimentos superiores a R$ 15 bilhões. Tudo ali está ocorrendo de […]

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Wilson Aquino
Wilson Aquino

A cidade de Ribas do Rio Pardo, a 92 quilômetros de Campo Grande, vive uma explosão de crescimento em todos os sentidos: demográfico, econômico e social, por conta do processo de implantação de uma das maiores indústrias de celulose do mundo, a Suzano, com investimentos superiores a R$ 15 bilhões.

Tudo ali está ocorrendo de maneira muito rápida. Os valores dos imóveis triplicaram; a mão de obra escasseou em praticamente todas as áreas; novos investidores, inclusive no comércio e serviços estão chegando. Essas mudanças exigem um empenho maior dos governos, especialmente estadual e municipal, para dotar a área urbana das condições necessárias para abrigar com segurança e qualidade de vida os milhares de trabalhadores, muitos deles com suas famílias, vindos de todos os lugares para suprir as novas demandas de trabalho que o mercado já exige, mesmo com o projeto da Suzano ainda em fase de fundação.

Depois desse panorama da nova realidade de Ribas do Rio Pardo, o objetivo do presente alerta é para chamar a atenção das autoridades e sociedade em geral, para o problema social que a chegada de milhares de trabalhadores, a maioria homens, podem provocar à cidade.  Poderá provocar um impacto junto às famílias locais, por conta de possíveis e quase inevitáveis envolvimentos amorosos desses trabalhadores com membros das famílias do município.

Em situações semelhantes, em outras cidades brasileiras e estrangeiras e na própria cidade de Ribas do Rio Pardo, durante a implantação do Gasoduto Bolívia-Brasil, o resultado foi um aumento dos casos de traições conjugais, gravidez na adolescência, aumento dos números de assédios e estupros, inclusive de crianças e adolescentes e aumento de divórcios e separações, entre os problemas.

Trabalhei para a Petrobras, como Assessor de Imprensa, e durante o processo de implantação do Gasoduto, essa questão social era a maior preocupação da empresa. Tanto é que os contratos com todas as prestadoras de serviço grandes ou pequenas, inclusive as subcontratadas, uma das condições do acordo era de que os empregados deveriam receber treinamentos e recomendações rigorosas para não se envolver amorosamente com membros da comunidade em toda linha do Gasoduto. Não seguir essa determinação implicaria em demissão sumária do empregado. Centenas de trabalhadores foram demitidos por desrespeitar esse requisito.

Havia preocupação inclusive do Banco Mundial, um dos financiadores do projeto, a esse respeito. Ele exigia rigor no cumprimento desse acordo de não envolvimento (amoroso) com pessoas da comunidade (indígenas, população urbana, rural…) para evitar divórcios e separações e gravidez indesejada.

Eu mesmo também tinha a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento dessa recomendação. Deveria relatar aos meus superiores possíveis casos dessa natureza para que a empresa tomasse as devidas providências urgentemente.

Na época, para quem questionava o porquê de todo esse rigor, técnicos da Petrobras falavam da seguinte hipótese: “Imagine essa situação: dezenas e até centenas de trabalhadores atuando por dias e até semanas em frentes de obras, no meio rural, descendo  depois desse tempo de trabalho, para uma cidade pequena com seus salários, muitos deles em dólares, para beber e se divertir? O resultado disso seria um desastre irreparável na sociedade, certamente afetando dezenas de famílias”. Daí a necessidade de disciplinar e punir os infratores.

Esse mesmo quadro se repete agora em Ribas do Rio Pardo, que lamentavelmente já carrega a péssima fama de ser uma das cidades do Estado onde a prostituição infantil era grande, por conta das inúmeras carvoarias, com centenas de trabalhadores no campo.

A atual situação exige um planejamento e a tomada de medidas preventivas para que as famílias não sejam impactadas com novos e graves problemas sociais pelo progresso e desenvolvimento da cidade.

Prefeitura, Governo do Estado e a Suzano precisam se debruçar sobre esse tema e estabelecer estratégias para evitar que a estabilidade das famílias  de Ribas do Rio Pardo seja ameaçada.

 

*Jornalista e Professor

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