Segundo profissionais da área, é como “ganhar na mega-sena ambiental” avistar um gato-palheiro, ainda mais quando o animal é melânico está com o seu filhote. Em Mato Grosso do Sul, a cena rara foi registrada recentemente, na região de Ivinhema, distante a 289 km de Campo Grande.

O biólogo e doutor em ecologia e conservação, José Milton Longo, explica que esta espécie geralmente vive em densidades bastante baixas e é um felino “bem arisco”, ainda mais nesta condição, a melânica.

“É bastante raro. A vantagem é que tem este parque estadual de Ivinhema, que garante ainda áreas para sobrevivência destes animais, os quais necessitam de hábitats mais específicos. Que bacana [o avistamento]. É, de fato, um grande prêmio de loteria, uma mega-sena do meio ambiente. Pode ser interpretado assim pela raridade da ocorrência”, afirmou ao MidiaMAIS.

Conforme especialistas, provavelmente este gato-palheiro é o mesmo animal avistado em setembro de 2020, pela primeira vez. Agora, já estava com a cria, no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema.

Na ocasião, um gestor do parque fazia o monitoramento rotineiro, da principal, quando flagrou o animal atravessando. “Para minha surpresa ele estava ali paradinho curioso pra saber que se aproximava”, disse Reginaldo Oliveira, na ocasião, em entrevista ao Biofaces.

Neste avistamento, do dia 25 de novembro deste ano, Reginaldo ressaltou o quanto este bicho é arisco e é raro fotografá-lo.

O gestor ainda conta que já havia feito este registro uma outra vez, não se sabe se do mesmo indivíduo, porém, de distância maior. “Já houve uma oportunidade que a nossa câmera trap registrou 2 indivíduos melânicos juntos, também não sei dizer se um deles era o mesmo que avistei. São 11 km de distância entre os locais. Isso foi em fevereiro deste ano”, explicou.

Gato-palheiro (Leopardus braccatus)

Animal em extinção e com população estimada de apenas 250 indivíduos adultos na natureza, os gatos-palheiros são felinos de pequeno porte, medindo entre 50 e 70 cm, com a cauda medindo entre 22 e 32 cm. Em média, pesam entre 3 e 5 kg.

A pelagem longa tem coloração que varia do vermelho-alaranjado ao cinza com listras irregulares nas laterais do corpo e das patas. Apresenta uma faixa de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda, que se eriça quando o animal se sente ameaçado.

Ainda conforme o Bioface, são animais mais ativos no final da tarde e durante a noite, realizando suas caçadas nesse período. Solitários, pouco se sabe sobre comportamentos em vida livre desta espécie.

Como carnívoros, consomem mamíferos pequenos, geralmente roedores. Assim como outros felinos, se reproduzem durante todo o ano. Podem dar à luz entre um e três filhotes. 

Espécie está espalhada pelo Pantanal

Gato palheiro no pantanal sul-mato-grossense. Foto: Fazenda San Francisco/Divulgação
Gato-palheiro no pantanal sul-mato-grossense. Foto: San Francisco/Divulgação

No Brasil, a espécie está espalhada pelo Pantanal, pelo e pelos Pampas.

Classificado como vulnerável pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), avistar um gato-palheiro já é raro. Um registro melânico é como ganhar na mega-sena ambiental. A mutação genética provoca a produção excessiva, concentrada e considerável do pigmento negro, chamado de melanina. Isto não os afeta de modo negativo, sendo que eles podem, inclusive, ser mais resistentes.